Oi, sou Amira Sunnya e hoje vamos discutir uma dicotomia que permeia a arte e, como não poderia ser diferente, também a dança. Estou falando da dualidade entre dança e estética. Para nos ajudar nessa reflexão, é importante, antes de tudo, pensarmos no significado das duas palavras separadamente. A dança, segundo o dicionário Aurélio, é uma "série ritmada de gestos e de passos ao som de uma música". Também pode significar “estilo próprio, tipo, gênero ou modo de dançar”. Já estética, segundo o mesmo dicionário, diz respeito à beleza; à aparência harmoniosa nas formas, como por exemplo: estética facial. É também o ramo da filosofia que se dedica ao estudo do belo, da beleza sensível e de suas implicações na criação artística.
Entendamos, então, que enquanto a primeira — a dança — refere-se a algo fluido, flexível, intangível e imensurável, a segunda — a estética — remete a algo pré-definido pelo contexto social em que estamos inseridos. Por isso, carrega limites rígidos, preconcebidos e controlados pelo recorte cultural de sua época. Um exemplo é a Era Vitoriana, quando a estética exigia mulheres pálidas, magras, e havia uma valorização exacerbada de roupas e acessórios que enfatizavam a delicadeza e o recato feminino.
Alguns, talvez desatentos, podem afirmar que dança e estética devem caminhar lado a lado. Em parte, isso pode até ser verdade. Mas o ponto aqui não é discutir a estética da dança, e sim refletir sobre o quanto a dança se tornou prisioneira da estética. Não apenas no sentido de uma entrega padronizada que precisa atender a um ideal engessado de perfeição, mas principalmente em relação à estética dos corpos que dançam.
Ora, se a dança — enquanto expressão artística — está presa às amarras do padrão, o que dizer dos corpos dançantes? Como mulher que não se encaixa nos padrões estéticos atuais, já ouvi diversas vezes que seria melhor me cobrir mais ou tentar outro tipo de dança. Pois, segundo essa lógica cruel, um corpo fora do padrão de beleza vigente só é tolerado se estiver o mais coberto possível.
Vivemos numa época em que o empoderamento virou pauta essencial em rodas de conversa entre pessoas que se dizem imunes aos pensamentos preconcebidos. Discutimos a importância da diversidade de corpos. Mas, na prática, os olhares tortos, as piadas, os comentários maldosos disfarçados de “dicas” revelam uma sociedade que ainda está longe de abrir mão daquilo que considera belo. Bela é a norma, e tudo fora dela incomoda — a ponto de ofender.
A reflexão proposta aqui não é apenas sobre estética ou dança, mas sobre o perigo de quando a estética se sobrepõe à arte. Se a dança tem estilo próprio e modos múltiplos de ser, então os corpos que dançam também devem ser múltiplos. Limitar a dança ao padrão é limitar a criação, a expressão e a própria forma de existir e fazer arte.
Por isso, é urgente repensar os padrões. 🌼
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